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Palavras de Sabedoria

Apenas há Um acima de toda a sabedoria...

Palavras de Sabedoria

Apenas há Um acima de toda a sabedoria...

A vida em que vivemos...

E se acordasses de manhã e tudo aquilo que dás por certo e tens por garantido não tivesse acontecido? O relógio marca 9h da manhã. Esfregas os olhos, mas continuas a ver tudo escuro. É então que te lembras que a tua janela não tem persiana e que vês a luz dos candeeiros da rua brilhar lá fora. Incrédulo com esta anormal escuridão abres a janela para sentir a brisa da manhã, mas esta não existe. Procuras o Sol, que certamente já devia ter aparecido, mas este lá não está! Pensas que estás a sonhar, diriges-te à tua casa-de-banho. Carregas no interruptor da luz e esta não acende. É então que procuras a ajuda da água fria nos teus olhos para teres a certeza de que não estás a sonhar. Abres a torneira no escuro, mas esta havia secado. Decides vestir-te e procurar alguém, perguntar se sabia o que se havia passado e o porquê do Sol não se ter levantado. Sais de casa. A rua mantém a penumbra da noite e os lampiões mantêm-se estáticos na ausência de qualquer brisa que te possa fazer sentir vivo. Ainda assim, são a única fonte de iluminação que encontras para te guiar. Não percebes como eles ainda estão acesos, visto que tu não tens luz em casa, mas também não te importas porque afinal pensas que são a tua única fonte de orientação neste mundo. Vais procurar aqueles que dás por certo que te podem ajudar em qualquer situação: os teus amigos. Um por um, verificas que ninguém está em casa. Não há ninguém na rua e a qualquer porta que batas, o eco dos nós dos teus dedos a ressoar nas portas é a única coisa que ouves. Entras em pânico! Neste rasgo de temor interior lembras-te que ainda não havias comido e sentes fome. Regressas a casa pela escuridão banhada de laranja pelos lampiõese procuras alimento onde o dás por certo. Como está escuro não os consegues ver, mas sabes onde estão. Procuras uma maçã na cesta da fruta, sentes a sua textura e o seu cheiro agradável, dás uma trinca mas... está podre! Tão bonita por fora, tão podre por dentro. Apercebes-te que tudo apodreceu, e todos os outros alimentos não passam senão de colónias de fungos e bactérias na forma branca, poeirenta e viscosa de bolor. Num rasgo de desespero lembras-te de algo que nem sabes como te esqueceste de utilizar até agora: o telefone. Ligas para todos os número que conheces e estranhamente todos estão interrompidos. Todos! Mas ninguém se encontrava em casa; o desespero agudiza-se e a depressão torna-se iminente! Sais de novo à rua e olhas para o céu à procura de um vestígio de Sol... nada! Mas é a olhar para o céu que te lembras de procurar alguém que te haviam falado quando eras pequeno, mas não mais quiseste saber, pois a tua inteligência e a tua racionalidade não suportavam tamanho insulto: buscas Deus. Oras a oração Cristã universalmente conhecida e que nem sabes como ainda a sabes decor: o Pai-nosso. Sentes essa oração muito impessoal e é então que decides pela primeira vez na tua vida falar com Ele, no verdadeiro sentido da palavra falar. Após 1 hora sentes que nada sentes, sentes que Ele também lá não está. Pensas que morreste e só podes estar num lugar estranho, réplica do lugar onde devias estar a acordar e que deves certamente ter que esperar por certa coisa ou por alguém. Sentas-te nas escadas de acesso a uma casa na rua e esperas, esperas, esperas... a loucura começa a apoderar-se de ti. Dás por ti a pensar e apercebes-te que pensar é a única coisa que se mantém capaz em ti. Se outrora te sentirias muito orgulhoso pois eras convicto que o melhor era o mais inteligente, o possuidor de melhor raciocínio, aquele que mais sucesso tivesse na vida, agora sentes que tal capacidade supra-somática é tão insignificante que preferias não a possuir para não teres consciência do que se estava a passar. Os teus ideais de vida, os teus projectos, a tua forma tão racional e apaixonada de ver e viver a vida (como achavas que devias viver), já nada fazem sentido. As tuas certezas já nem sabes quais são e a segurança do teu mundo biológico, social e cultural pregou-te uma partida. Tudo se esvaneceu, apesar de tudo estar no sítio. É então que dás por ti a pensar no sentido da vida. Apercebes-te que realmente não faz muito sentido, nem tem nenhuma importância a perspectiva biológica das coisas. Essa a mantiveste, mas nada conseguiste manter em ti ou contigo. A vida tão bela que achavas que levavas pões em equação. Pensas então: Onde está a certeza daquilo que vejo? Já nem acredito no que vejo, no que toco, no que analiso, tudo está tão oco de significado. Ainda ontem tudo fazia sentido e todos estávamos inseridos num contexto que nos envolvia, todos tínhamos objectivos na vida para sermos aquilo com que sempre sonhamos, todos aqueles a quem chamava amigos tínham a certeza de que a vida era realmente aquilo que se nos apresentava, mas hoje tudo o que se me apresentava continua aqui. Mas se outrora gostava de ver o meu ego exaltado perante todos os outros, se gostava de me sentir bem, mesmo passando pelo pobre a sentir-se mal na rua que afinal era motivo de gozo por mim e pelos meus amigos por estar sempre bêbado e cambaleante, se achava que tinha que me distinguir por conseguir fazer melhor, se achava que tinha que ser aquilo que chamavam «alguém» na vida e se achava que o meu dever neste mundo era trabalhar, cuidar da Natureza, formar família e assim viver pacificamente os meus dias, hoje sinto a necessidade de ver o pobre cambaleando na rua. Não para o gozar, mas porque, sem eu saber, ele fazia-me sentir vivo. Afinal, aquele ser que eu nem liguei quando passava na rua, se me aparecesse agora tornava-se aos meus olhos e ao meu coração o meu melhor amigo. Já não consigo desejar estar só com aqueles que me pertenciam: os meus familiares, amigos, colegas, afinal todos faziam diferença na minha vida. Todos davam significado aquela minha vida que eu dava por correcta e normal, mas agora já não sei se terei dado um significado real à vida de alguém. Sempre pertenci à elite dos que sempre tiveram onde dormir, sempre tiveram com que se alimentar e sempre tiveram com que se vestir. E então sempre achei que esses eram o meu próximo, aqueles que realmente interessavam na minha vida, aqueles que realmente necessitavam de mim, mais de mim que eu deles, porque afinal sempre fui uma pessoa forte e de forte carácter. Agora que me sinto só, sei que podia ter feito a diferença para alguém... porque não para o pobre? Ou para qualquer outro que gritasse em silêncio por ajuda, mas que eu preferia ignorar com a surdez do meu mundo tão bem encaminhado. Sempre achei que sabia viver e agora sinto que não vivi. Todas as minhas paixões e aventuras que vivi, aquelas que eu achava serem o sal da vida, afinal meras efemeridades insignificantes vazias. Vazias de tudo aquilo que agora me pudesse fazer pensar que tinha vivido o melhor que podia. Esse melhor que eu sempre achei ser o culto do eu, através da minha instrução, das minhas relações pessoais, do desempenho da minha profissão, da ajuda aos meus amigos, afinal quem sou eu? Agora que aqui estou a olhar para o céu e que tudo aquilo que dava por certo não aconteceu, ponho em causa esta realidade física e material. Ontem tudo fazia sentido, era um ser humano!!! O ser superior na escala da evolução animal, o animal mais inteligente e que por isso tinha tido mais sucesso. E a racionalidade e a certeza daquilo que via e estudava, corroboravam a minha certeza de mim como um ser biológico por um lado, social e psicológico por outro. Hoje, na mesma realidade isso já não me satisfaz... continuo a ser um ente biopsicossocial mas não vejo o sentido nisto. Será que isto não era O importante mas uma parte de um todo que nunca consegui ver devido à cegueira que o eu intelectual e que a sociedade me tinha impingido? Porque nunca pensei isto antes? Porque só penso agora? Será tarde demais? Sinto que é tarde demais e então sinto-me estúpido por não ter duvidado das minhas certezas. Porque nunca admiti que pudesse haver um Deus? Afinal até havia relatos históricos e científicos (que me garantiam ser credíveis) de alguém nunca antes visto, quer pela sua magnitude, sabedoria e poder, quer pelo seu amor, compaixão e humildade. Ele poderá ter sido realmente aquele que disse quem era mas nem me interroguei, afinal a certeza do meu mundo não permitia que nada o abalasse. E agora que me lembro dos seus ensinamentos de amor, compaixão, perdão, humildade, serviço ao próximo, amor aos inimigos finalmente consigo ver que afinal era tudo isso que podia ter dado sentido à minha vida. Era tudo tão evidente, mas não consegui ver, nem quis saber da sua Palavra. Se pudesse voltar atrás fazia tudo diferente. Ia procurar saber mais acerca Dele, procurar amá-lo por tudo aquilo que Ele é e fez por mim e então, este seria apenas o ponto de partida para a minha vida guiada apenas pela Sabedoria do único que hoje vejo, ter sido o maior e mais do que isso, o verdadeiro. Se pudesse, saía do meu lugar confortável e iria amar e ajudar com todas as forças todos aqueles que silenciosamente ignorei no seu desespero. Não na procura de auto-realização, de ser bem visto (ou não) por todos, mas na consciência de que alguém muito maior do que eu, mo havia ensinado e amado. Esse mesmo que eu chicotiei, cuspi na sua cara e o preguei numa cruz. Faria então tudo pelo próximo pelo amor ao próximo (amor desinteressado e verdadeiro) e pelo amor a Ele. Quem me dera que não fosse tarde demais!! É então que sentes luz nos teus olhos e vês o Sol a nascer pela tua janela. Com os olhos ainda meio fechados, vês que tudo não passou de um sonho, um sonho bem real, o sonho a que chamas vida!

 

(por João Costa)

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